Bruno Pacheco – Redação Amazônia
Um casal dono de uma pousada no município de Presidente Figueiredo (a 120 quilômetros de Manaus), no interior do Amazonas, confessou ter matado a artista venezuelana Julieta Hernández Martínez, de 38 anos, que viajava de bicicleta pelo Estado e estava desaparecida desde o dia 23 de dezembro do ano passado. O corpo da vítima foi encontrado enterrado na noite de sexta-feira, 5, próximo à corredeira de Urubuí.
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, Julieta foi estuprada antes de ser assassinada. A dupla suspeita da execução foi presa. A vítima dormia em uma rede da pousada, quando foi ameaçada pelo dono da pousada, que a obrigou a fazer sexo oral. O homem também teria pedido para a companheira amarrar a artista, antes de cometer o abuso sexual.
A polícia afirma que o homem havia usado crack horas antes de estuprar a mulher. Julieta foi morta após a namorada do dono da pousada ficar com ciúmes e ter jogado álcool nos dois e ateado fogo. Mesmo com o fogo, o suspeito matou Julieta asfixiada e a enterrou em uma cova a pelo menos 15 metros da entrada da pousada.
Foi o casal quem indicou onde o corpo estaria, após eles confessarem o crime. Presos em flagrante, a dupla passou por audiência de custódia e a teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça. As informações são da “Folha de S.Paulo”, que teve acesso ao Boletim de Ocorrência com a transcrição dos depoimentos.
Julieta
A artista havia desaparecido em 23 de dezembro de 2023. Segundo familiares, foi em Presidente Figueiredo que ela parou de se comunicar com eles. Ela seguia pela cidade a caminho de Boa Vista, em Roraima, e para seu país de origem, com intuito de voltar para casa, em Puerto Ordaz, onde a mãe mora na Venezuela.
Mas por conta do sumiço, amigos e conhecidos passaram a procurar a viajante e acionaram a polícia. O Circo di SóLadies, grupo em que ela fazia parte, chegou a iniciar uma campanha nas redes sociais em busca de informações sobre o paradeiro de Julieta.
Após diversas investigações, o corpo de Julieta foi encontrado. Em nota nesse domingo, 7, a perícia confirmou que o corpo encontrado enterrado era de Julieta Inés Hernández Martínez.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas (SSP-AM), por meio do Departamento de Polícia Técnico-Científica, a identificação foi realizada por meio do procedimento de necropapiloscopia, pelo Instituto de Identificação do Aderson Conceição de Melo (IIACM) com apoio da equipe técnica do Instituto Médico Legal do Amazonas (IML).
‘Tiraram ela da gente’
A morte de Julieta gerou forte comoção entre artistas amazonenses. O Circo di SóLadies prestou diversas homenagens para a amiga. Nas redes sociais, a organização disse que a venezuelana foi vítima de feminicídio.
“Nossa grande Julieta. Nossa palhaça Jujuba carregava seus sonhos na bike e gerava sorrisos pelo Brasil todo. Ela se foi. Tiraram ela da gente. Sua vivacidade foi vítima de feminicídio e sua bike destroçada, assim como nossos corações”, lamentou o circo.
A Fundação Nacional de Artes (Funarte) também lamentou o assassinato da venezuelana. “É com tristeza e indignação que recebemos a notícia da morte da bonequeira, palhaça, artista e cicloviajante, Julieta Hernández. Com toda alegria e irreverência, Julieta viajava com sua arte conduzindo crianças e adultos ao mundo circense e por isso, sempre será lembrada. Inquieta em relação à desigualdade de gênero, sua busca por equidade é uma inspiração para todas nós”, afirmou a presidente da Fundação, Maria Marighella.
Viajante
Aos 38 anos, Julieta atuava como palhaça e bonequeira. Ela era cicloviajante, com viagens de bicicleta pelo Rio de Janeiro até o Amazonas. A artista vivia legalmente no Brasil desde 2015 e em 2019, começou a viajar de bicicleta pelo País, se apresentando como palhaça Miss Jujuba por cidades de mais de 9 estados brasileiros.