Sobre a Alvorada do Garantido
Daqui a algumas horas, na madrugada do dia 1 de maio, acontece um dos eventos mais lindos e importantes do Boi Bumbá Garantido, que para mim, junto à Ladainha e saída às ruas no dia 24 de junho, representa a mais pura essência da cultura popular, a tradicional Alvorada.
Já ouviu falar? Com certeza, entretanto nada se compara ao sentimento de participar, saindo da Cidade Garantido e andar quilômetros e horas ao som de toadas antigas do boi Garantido, algumas tão antigas, que nem sabemos quem foi que compôs, mas a gente canta como se tivesse sido composta ontem…
Não…não é simplesmente uma festa de “pé no chão”. Não é uma ‘micareta de boi bumbá”, como uns desavisados podem pensar. É amor por folclorear, de sentir forte um amor e encantamento por um boi brinquedo.
Nada ali conta ponto; item não tem que evoluir e o cantor nem precisa saber cantar (risos), só precisamos estar e sentir…
Você se integra ao mar vermelho, composto por milhares de pessoas, que toma as ruas do lado vermelho da ilha; divide o espaço (?) da rua dançando e cantando sem parar; canta tanto, mas tanto que fica rouco; abraça o estranho ao lado na maior amizade do mundo para fazer selfie ou apenas para cantar mesmo; toma chuva (sim, porque é de lei chover no decorrer do percurso); pede licença de algum dono da casa pelo caminho para usar o banheiro, que cede na maior boa vontade; solicita “emprestado” o xeque-xeque ou surdo de algum batuqueiro e sai tocando; acha o Garantido, no meio da multidão, “lindo e popular’ e vai abraçá-lo chorando ( bêbado ou não); se emociona ao cantar aquela toada que toca a alma e mais ainda quando chega na frente da catedral e começa a cantar “Boi do Carmo” ao Alvorecer…
E é feliz…simplesmente feliz durante algumas horas!
Meu amor vem logo me abraçar
Que o dia vai raiar
E a batucada não pode parar
Traz o luar, estrelas pra contar
Traz flores pra jogar e uma cachaça pra gente comemorar
Texto escrito por essazinha, em 2017, e que deu vontade de relembrar
Chris Reis – jornalista, perreché, “boióloga” e “galerosa” da Baixa do São José
Fotos: Elcio Farias