| DO RDA – MICHELE PORTELA
BRASÍLIA – Embora pensada como uma região com água abundante, o acesso a saneamento básico e água potável ainda são fatores de entrave para o desenvolvimento econômico e social dos estados da Amazônia. Em toda a região Norte, apenas 37,6% da população tem acesso à água potável enquanto 85,7% da população não tem acesso à coleta de esgoto, cenário que afeta a escolaridade, a renda e o bem-estar das pessoas que residem na região.
Os dados são do Painel do Saneamento do Instituto Trata, formulados em parceria com a GO Associados a partir de indicadores de 2022. De acordo com a presidente executiva da organização, Luana Petro, há sete cidades da região Norte entre as 20 do país com piores cenários sobre tratamento de água e esgoto. “Temos cidades com uma dificuldade muito grande em relação a coleta e tratamento de esgoto, com índices de perdas de água bastante elevados e com investimentos baixos”, avalia.
Com apenas 19,8% do índice de esgoto tratado, a região registrou 32,4 mil internações causadas por doenças de veiculação hídrica, com 228 óbitos no ano de referência do estudo. “Existe um desafio muito grande de investimento em saneamento básico na região e, consequentemente, de melhor perspectiva de avanço, principalmente em relação à coleta e tratamento de redução das perdas de água na distribuição e um grande número de doenças de veiculação hídrica, como dengue, leptospirose e diarreia”, explica Luana, ressaltando que o levantamento está baseado nos padrões do Novo Marco Legal do Saneamento Básico.
Distantes de alcançar a meta do Marco do Saneamento, que é de levar saneamento básico a 99% da população até 2030, além dos sete municípios do Norte, entre as 20 piores cidades do Ranking de 2024, outros cinco são da região Sudeste, seis do Nordeste do país, um no Centro-Oeste, e ainda outro, na região Sul. Entre os piores, o município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, é aquele com melhor índice, já que trata apenas 44,74% do esgoto gerado.
Efeitos
Enquanto no país, o índice é de parcela da população sem acesso à água é de 15,8% e a sem coleta de esgoto chega a 44,5%, nos estados do Norte o cenário é mais precário, com índices em 37,6% e 85,7%, respectivamente. Em todo o país, apenas 22 municípios possuem 100% de atendimento de água e outros 18 com índices acima dos 99%, como Belo Horizonte, Curitiba, João Pessoa e Osasco.
Somente no Amazonas, o estudo mostra desperdício do equivalente à capacidade de 266 piscinas olímpicas de água desperdiçada na capital, Manaus, o que seria suficiente para atender mais de um milhão de pessoas. Na mesma cidade, 25,4% da população branca e 23,3% da população negra não possuem acesso a esgoto tratado, enquanto a indígena está em 36,4%.
Os efeitos no desenvolvimento da região podem ser sentidos pelos indicadores econômicos e sociais medidos pelo estudo do Instituto Trata Brasil. A renda média do nortista com acesso a saneamento é de R$ 2,7 mil, enquanto daqueles sem acesso é de R$ 2 mil. O mesmo estudo mostra que o preço do valor médio do aluguel de moradias é de R$ 752,65, abaixo do índice nacional, de R$ 792,13. Já nas áreas sem saneamento o valor cai para R$ 513,15 e R$ 577,82, respectivamente.
A questão da valorização ambiental reflete, por exemplo, nos salários pagos aos trabalhadores do turismo. Enquanto no país, a renda média nacional desse perfil é de R$ 2.383,53, no Norte é de R$ 1.778,85, esses valores caem para R$ 577,82 e R$ 513,15, no Norte do país.
Na área de Saúde, a principal preocupação é com a população atingida por doenças de veiculação hídrica, que se refletiram em 32.485 mil internações na rede de saúde pública. Na Educação, no país e no Norte, a escolaridade média de pessoas com saneamento é de quase 12 anos, mas as com sem saneamento permanecem em pouco mais de dez anos de estudo formal.