MANAUS (AM) – Cinco dos nove prefeitos de capitais da Amazônia Legal que tomaram posse em 1º de janeiro de 2025 foram reconduzidos aos cargos nas últimas eleições municipais, ocorridas em outubro de 2024. As informações são da revista Cenarium, que fez um levantamento sobre o perfil dos novos mandatários das cidades, onde vivem mais de 7 milhões de habitantes, e sete deles são ligados à direita.
Dos candidatos que foram reeleitos, três fizeram alianças com siglas consideradas de direita, um concorreu pelo Partido Liberal (PL) e o quinto teve na composição da chapa legendas de centro. Já entre os candidatos que concorreram fora do cargo, três buscaram siglas de direita para compor as candidaturas, e um deles não fez alianças e concorreu por um partido de centro.
Para o levantamento, a reportagem levou em consideração os dados divulgados pela Consultoria Nexus em outubro de 2024. Conforme a consultoria, são partidos de esquerda o PCdoB, PDT, PSB, PT, PV e Rede. Entre as siglas consideradas de centro estão o Agir, Avante, MDB, Mobiliza, PMB, Podemos, PP, PSD e Solidariedade. As legendas alinhadas com a direita são: PL, Democracia Cristã, Novo, PR, PRTB, PSDB, Republicanos e União Brasil.
Um dos candidatos que foram reeleitos concorrendo por uma sigla de direita é o prefeito de Rio Branco (AC), Tião Bocalom (PL). Além do PL, a coligação vitoriosa nas urnas teve o apoio dos partidos União Brasil, Progressistas, Podemos e a Federação PSDB-Cidadania. Em entrevista concedida à CNN Brasil após a reeleição, o prefeito da capital do Acre fez uma série de elogios ao ex-presidente Jair Bolsonaro, uma das principais figuras da direita no País.
“A minha identificação com Jair Bolsonaro foi logo de cara, porque ele teve uma postura como presidente da República muito parecida com aquilo que eu sempre sonhei, sempre tive […] A outra questão é a questão de defender a bandeira do patriotismo. Eu não abro mão disso”, afirmou o prefeito da capital do Acre.
David Almeida (Avante), prefeito reeleito de Manaus, também foi um dos candidatos que se aliaram a siglas de direita para concorrer a um novo mandato, apesar de ter no palanque os senadores lulistas Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD). Durante a campanha eleitoral, o político manteve o discurso religioso e conservador.
“Quando Deus olha para um homem e quando um homem vê em outro homem, um pastor, Deus enxerga nele um rei. Quando os homens viam em mim um cabo eleitoral [em 1996], Deus já tinha me visto prefeito“, disse Almeida durante a convenção que oficializou o nome dele à reeleição.
Além de Almeida, os prefeitos reeleitos em Boa Vista (RR) e Macapá (AP), Arthur Henrique e Dr. Furlan, respectivamente, ambos do MDB, também tiveram siglas de direita compondo as candidaturas. Na capital de Boa Vista, o candidato a vice-prefeito, tenente-coronel Marcelo Zeitoune, foi indicado pelo PL. Já a candidatura de Furlan teve na composição da chapa o partido PRD.
O único candidato reeleito que não fez composição com siglas de direita foi Eduardo Braide (Podemos). O prefeito de São Luís, capital do Maranhão, contou com o apoio do Republicanos e o MDB, além do seu partido, o PSD. Todas as siglas são consideradas de centro pelo levantamento da Nexus.
Alianças dos eleitos
Três dos quatro candidatos que concorreram ao cargo pela primeira vez também se aliaram ou concorreram por siglas direita nas eleições municipais de 2024. Em Cuiabá, capital de Mato Grosso, o candidato bolsonarista Abilio Brunini (PL) foi eleito com o apoio direto da família Bolsonaro e figuras expoentes da direita brasileira, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Após a eleição, ele pregou união.
“Cuiabá é uma só. Os problemas de Cuiabá atingem todos nós. O buraco da cidade não escolhe lado, ele atinge a esquerda e a direita. O sofrimento que a gente tem nas UPAs não tem lado ideológico. Faltam remédios e falta serviços tanto para o pessoal da direita quanto para o pessoal da esquerda. Vamos ter que juntar forças com todos, o apoio dos eleitores do lado de lá e do lado de cá“, disse em discurso.
O candidato do clã Barbalho em Belém, Igor Normando (MDB), foi outro político que contou com o apoio de legendas como o União Brasil, PRD, além do Cidadania, que faz federação com o PSDB. Apesar da aliança com siglas de direita, Normando não teve o apoio do clã Bolsonaro e teve que enfrentar o candidato do grupo político do ex-presidente, que fez campanha para o deputado federal Éder Mauro (PL).
Caso semelhante ocorreu em Palmas. O então candidato Eduardo Siqueira (Podemos) reuniu no seu entorno partidos considerados de direita, mas enfrentou uma candidata do partido de Jair Bolsonaro, o PL. Apesar do apoio, o candidato que já havia governado a capital de Tocantins entre 1993 e 1997 venceu a disputa no segundo turno.
Já na capital de Rondônia, Porto Velho, o candidato Leo Moraes (Podemos) não reuniu outras siglas em torno da sua candidatura e concorreu pelo Podemos, uma legenda considerada de centro, segundo a consultoria Nexus. A adversária dele, candidata Mariana Carvalho (União Brasil), teve o apoio de 12 siglas.
Crescimento da extrema direita
À CENARIUM, o advogado e cientista político Helso Ribeiro afirmou que o impulsionamento de candidaturas de direita está ligado ao crescimento da extrema direita no País. O especialista explicou que as ações desenvolvidas no âmbito municipal são de governo, não ideológica. Mas, para ele, os políticos precisaram adequar o posicionamento para garantir votos de eleitores que passaram a se identificar com figuras desse campo ideológico, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Construir uma creche, tapar um buraco, botar árvores nas ruas, tratar do pavimento público, das calçadas. Isso não é esquerda, nem direita. Isso é ação de governo. Agora, eu obverso que houve um crescimento da extrema direita no Brasil e com isso palavra direita acabou gerando uma espécie de uso inflacionário. Então, todo mundo agora é de direita para ficar bem na foto”, disse.
O cientista político destacou que o perfil ideológico dos mandatários não influencia a tomada de decisões, se ele tiver uma visão social. “Se a pessoa tiver no Executivo com uma visão social, ela vai realizar atos que vão tocar as pessoas carentes. Ela não precisa ser de esquerda ou de direita para isso. Uma creche não é ser de direita ou esquerda, tapar um buraco na rua não é ser de direita esquerda”, frisou.
O especialista também afirmou que o conservadorismo atualmente é fruto da propaganda de uma onda que nem sempre corresponde aos fatos e ao comportamento de quem a propaga. “Agora, o fato desse discurso conservador existir, não significa que quem é de esquerda não seja conservador, nem quem é de direita seja sempre conservador”, disse.
Reeleição de prefeitos
Para Helso, a reeleição da maioria dos prefeitos das capitais da Amazônia Legal pode estar condicionada às ações desenvolvidas pelos mandatários no primeiro mandato. O especialista frisou que as entregas realizadas nos dois últimos anos do primeiro governo favorece quem está no poder, ao contrário de um candidato que não tem a administração.
“Quem está com o poder nas mãos, no Executivo, tem obras para mostrar, porque com a máquina administrativa. E isso acabou facilitando de certa forma a reeleição. Aí o eleitor quer ver o final da obra concluída e aplaude a ação que foi feita normalmente entregue no final do governo nos dois últimos anos para ficar marcado na mente da população”, concluiu.
VIA CENARIUM (VEJA NO LINK)