Por: Ana Jeffres – Psicóloga
O discurso tradicional sobre saúde mental nas organizações ainda tende a focar nos liderados. Pouco se fala, no entanto, sobre quem lidera. Gestores, coordenadores, diretores e CEOs estão sob pressão constante, lidando com metas agressivas, cobranças silenciosas e expectativas difusas. Não é coincidência que índices recentes apontem para um aumento expressivo nos casos de Burnout entre lideranças organizacionais.
Segundo a International SOS Foundation (2023), 1 em cada 3 líderes relata sintomas compatíveis com esgotamento profissional, como insônia, ansiedade, apatia e queda no desempenho. O mais grave é que muitos gestores acreditam que demonstrar fragilidade emocional compromete sua autoridade. Isso os leva ao isolamento e à autossuficiência tóxica.
A atualização da NR 01, ao incluir os riscos psicossociais como obrigatoriedade para avaliação e gestão, também se aplica às lideranças. Empresas que não consideram o sofrimento psíquico dos gestores estão em descumprimento da norma, além de negligenciarem um ponto crítico para a sustentabilidade do negócio.
Quando o líder adoece, toda a equipe sente.
Lideranças exaustas tomam decisões impulsivas, tornam-se mais rígidas ou desconectadas das necessidades da equipe, impactando diretamente no clima organizacional. O ciclo de adoecimento se espalha em cadeia. Por isso, cuidar da saúde mental dos gestores não é luxo, é estratégia de gestão.
Como a Psicologia pode ajudar
A Psicologia Organizacional atua tanto na prevenção quanto na intervenção de casos de Burnout entre lideranças. Avaliações psicológicas, programas de coaching terapêutico, supervisões clínico-institucionais e grupos de apoio para gestores são medidas que têm apresentado ótimos resultados.
Estudo da American Psychological Association (2022) revelou que programas de suporte emocional para lideranças reduziram em 44% os afastamentos por adoecimento e aumentaram a produtividade das equipes em até 35%.
Mais do que nunca, é preciso quebrar o tabu de que liderar significa aguentar tudo sozinho. A vulnerabilidade, quando bem conduzida, é um ato de coragem e maturidade emocional.
Reflexão final: sua empresa cuida de quem cuida? Ou cobra resultados de um líder que já está em colapso silencioso?


