O engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos, de 42 anos, chegou vivo ao local onde seu cadáver foi encontrado, no bairro Tarumã, zona Oeste da capital. É o que constata no laudo do Instituto de Criminalística (IC) do Departamento de Polícia Técnico-Científico do Estado do Amazonas (DPTC-AM), divulgado com exclusividade pela jornalista Rosiene Carvalho, nesta sexta-feira (23).
O assassinato de Flávio ocorreu no dia 29 de setembro de 2019, após uma festa na casa de Alejandro Valeiko, filho da primeira-dama Eizabeth Valeiko e esposa do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. O corpo do engenheiro foi encontrado no dia seguinte em um terreno baldio.
Segundo o laudo, antes de morrer o engenheiro teve as roupas removidas com uso de arma branca, sendo jogadas nas proximidades da cena do crime. Já no local, Flávio foi amordaçado com fita adesiva e, ainda vivo, foi arrastado e sofreu múltiplas agressões físicas com uso de instrumento rígido na região da cabeça.
“Além de asfixia mecânica por sufocação direta e indireta, provavelmente por golpes de artes marciais, sendo atingido ainda por 7 (sete) ferimentos produzidos por instrumento de natureza perfurocortante (arma branca): 2 (dois) superficiais na região dorsal, 2 (dois) na região da coxa esquerda, 1 (um) na região deltóidea direita e 2 (dois) na região abdominal à esquerda”, diz um trecho do documento.
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O laudo também sugere que o engenheiro, já ferido, pode ter “caminhado e rastejado sobre o solo ardiloso” e encharcado o solo do terreno com sangue. Em seguida, ele teria tombado sobre o solo em decúbito vertical – termo que se refere à posição da pessoa que está deitada.
Segundo o exame, Flávio veio “a óbito em decorrência da anemia aguda proveniente das lesões na região abdominal que atingiu alças intestinais”.
O laudo foi concluído na última segunda-feira (19), pouco mais de um ano após a morte do engenheiro, ocorrida em setembro de 2019. O documento foi assinado pelo peritos criminais Mahatma Sonhará Araújo do Porto, Christian Anderson F. da Gama e Bráulio Leite Pedroso.
Cronologia do crime
O laudo traz o detalhamento cronológico dos acontecimentos no dia da morte de Flávio Rodrigues, a partir da reconstituição do crime, provas técnicas e as versões das pessoas envolvidas no caso, entre elas o enteado do prefeito Arthur Neto.
A versão simulada dos fatos mostra que o veículo conduzido pelo segurança do prefeito, Elizeu da Paz e o lutador de MMA, Mayc Vinícius Teixeira entrou no Condomínio Passaredo, a partir das 22h20 do dia 29 de setembro. A dupla foi em direção a residência de Alejandro Valeiko, onde já estavam Flávio, Elielton Magno e José Edvandro Martins de Souza Júnior.
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Segundo o documento, após estacionar Da Paz realiza a abordagem na casa de Alejandro enquanto Mayc aguarda na área externa do imóvel. Júnior que percebe a chegada do veículo corre em direção ao banheiro, de onde envia pedido de socorro por mensagem e permanece até a chegada da polícia militar, que chega por volta das 23h.
Por volta das 22h30, Elielton Magno consegue empreender fuga pela porta da residência, mas é atingido duas vezes com instrumento cortante (arma branca) por Mayc na região dorsal -região entre o pescoço e a região glútea. Apesar dos ferimentos, ele consegue chegar até a portaria do condomínio, onde pede ajuda e permanece até chegada de socorro médico.
De acordo com o laudo, Alejandro Valeiko sofreu golpes na cabeça da arma de fogo que era usada por Da Paz durante a abordagem. O documento narra que toda a cena durou poucos minutos e por volta das 22h31, a dupla entra no veículo onde Mayc imobiliza Flávio sobre o assento traseiro.
Em seguida, o carro modelo Toyota Corolla passa pelas portarias do condómino Passaredo e Belvedere dos Pássaros em direção a avenida do Turismo. O laudo sugere que o veículo se dirigiu ao terreno baldio que fica no Tarumã, local do assassinato do engenheiro.
Entre 23h e 23h10 chegam a primeira e segunda viatura da polícia militar no condomínio para atender a ocorrência. Uma viatura do SAMU também passa pela portaria para realizar atendimento médico. A perícia também sugere que as 23h30, o véiculo conduzido por Da Paz e Mayc “passou por procedimento de limpeza”.
Nos trechos do documento que o Portal AM1 teve acesso não cita Vitório Del Gato, que era cozinheiro e morava junto com o enteado do prefeito.
Indiciados
Em fevereiro deste ano, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) ofereceu denúncia à Justiça do Amazonas tornando réus no processo além de Alejandro, Elizeu da Paz Souza e Mayc Vinícius Teixeira – que confessou a autoria do crime. No mesmo processo, Paola Molina Valeiko que é outra enteada do prefeito responderá por fraude processual e Júnior por denunciação caluniosa.
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Atualmente, Alejandro responde em liberdade monitorada eletronicamente; Elizeu da Paz cumpre prisão preventiva e Mayc Parede cumpre prisão preventiva. Paola e Junior respondem em liberdade.
Já o prefeito Arthur Neto virou alvo do MP por suposto ato de improbidade administrativa, devido o uso de veículos oficiais e agentes públicos em benefício do seu enteado, Alejandro Valeiko.
A morte do engenheiro completou um ano no final de setembro deste ano e após vários juízes do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) se declinarem do caso sob alegação de serem suspeitos para atuar, o processo caiu na 1.ª Vara do Tribunal do Júri que prevê realizar, ainda neste ano, a audiência de instrução.