A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 – COP30, que será realizada em Belém (PA) entre os dias 10 e 21 de novembro, já conta com mais de 4 mil organizações da sociedade civil do mundo inteiro credenciadas como observadoras na preparação para o evento da Organização das Nações Unidas (ONU). O número foi confirmado por Jorge Santana de Oliveira, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República, durante audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (3).
Segundo o assessor, existe consenso entre autoridades e organizações de que a ampla participação social fortalece a pressão por compromissos concretos nas negociações climáticas. Um grupo de trabalho interministerial está em atuação para ampliar ainda mais esse engajamento, com novas oficinas e diretrizes para o credenciamento de participantes. “Quanto maior a participação social, mais pressão é exercida e melhores resultados são alcançados”, reforçou.
Cúpula dos Povos: a voz da sociedade civil
Além das atividades oficiais, a Cúpula dos Povos será o principal espaço de mobilização social durante a COP30. O evento paralelo acontecerá de 12 a 16 de novembro no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), reunindo mais de 15 mil pessoas e cerca de 700 organizações sociais e populares de diversas partes do mundo. As pautas centrais incluem:
• Desmatamento zero
• Reflorestamento de áreas degradadas
• Produção de alimentos sem agrotóxicos
• Reconhecimento de territórios indígenas e tradicionais
• Democratização da terra
• Compromisso ético com todas as formas de vida
Apesar das dificuldades logísticas e da escassez de recursos, o diretor de Relações Institucionais da UFPA, Adolfo de Oliveira Neto, garantiu o apoio da universidade à realização da Cúpula. “Nós queremos ser o espaço mais democrático e mais popular: não vai ter credencial para entrar. Nós vamos ser o espaço da democracia direta”, afirmou.
Sociedade civil como agente de transformação
A coordenadora-geral de mobilização da presidência da COP30, Luciana Abade, destacou que a participação popular vai além do simbolismo. Segundo ela, o governo já articula ações concretas, como o Círculo dos Povos, que conecta o evento com indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais. “Esse círculo não é um espaço apenas simbólico, ele é um lugar de incidência, de deliberação. A sociedade civil não é espectadora: ela é agente desse processo de transformação”, afirmou.
Denúncias e apelos por justiça climática
Representante da organização política da Cúpula dos Povos, Ayala Ferreira afirmou que os movimentos querem ser ouvidos de forma efetiva pelas lideranças mundiais. “Queremos, com o processo de mobilização de cerca de 15 mil pessoas e 15 mil vozes, dizer a plenos pulmões que basta desse sistema de misérias e de morte. Precisamos denunciar os agentes que violam os direitos da natureza e das pessoas”, declarou.
O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), um dos organizadores da audiência na Câmara, elogiou a retomada da Cúpula dos Povos, idealizada inicialmente na Eco-92. “A conferência no Brasil abre a possibilidade de recuperar a participação ativa da sociedade civil, com manifestações que influenciam a própria agenda de negociações internacionais”, afirmou.
A indiana Kirtana Chandrasekaran, da organização internacional Friends of the Earth International, pediu apoio direto do governo brasileiro para garantir a liberdade de manifestação durante a COP, sem censura, mesmo diante de possíveis conflitos com interesses econômicos.