A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), da Prefeitura de Manaus, gastou em 2025, sob a gestão do secretário Sabá Reis, R$ 584,6 milhões em despesas, valor que não se reflete na limpeza das vias públicas, diante da permanência de descarte irregular de lixo e da falta de coleta de resíduos sólidos em diferentes pontos da cidade. A reportagem é da revista Cenarium
Segundo a reportagem, foram verificados locais em que o lixo “disputa” espaço com os cidadãos, onde foi possível constatar acúmulo de resíduos domésticos e industriais em áreas de circulação de pedestres e veículos.
Um dos locais foi a alça de acesso localizada entre a Avenida Boulevard Álvaro Maia e a rua Dercy Gonçalves, no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul da cidade. No local, por onde transitam carros e pedestres regularmente, a cena é de resíduos como sacolas plásticas, garrafas pets e roupas acumulados ao redor de duas lixeiras com o nome da Semulsp, despejados tanto na calçada quanto na via pública.

Outro endereço foi em uma das principais vias da Zona Leste da cidade. Na Autaz Mirim, outro registro da reportagem mostra o acúmulo de lixo no canteiro central, onde também há grande volume de resíduos descartados em vários pontos, incluindo galhos, restos de poda, pneus, sacolas plásticas, embalagens, resíduos orgânicos, pedaços de madeira e telhas.
Parte do lixo ocupa a faixa lateral da pista, onde veículos de carga pesada, carros e motos precisam desviar dos resíduos. No local também é possível ver pedestres circulando, o que, segundo moradores das proximidades, traz mais riscos a quem precisa atravessar a via pública.

“Muitas vezes, o pedestre deixa de passar pela faixam que é destinada para ele, e acaba passando pelo meio-fio, e acaba encontrando esse outro empecilho, que é a questão do descarte regular de lixo“, disse um motorista que mora no local e pediu para não ser identificado.
Segundo ele, o descarte irregular ocorre, muitas vezes, por orientação dos próprios coletores e a periodicidade da coleta — de duas vezes por semana, no local — não é suficiente.
“A população acaba descartando de maneira incorreta ou até mesmo a pedido da prefeitura, porque geralmente o pessoal da coleta pede que os moradores joguem a parte mais pesada do lixo em um local específico, onde a caçamba não consegue recolher e onde a prefeitura possa passar com máquinas e tratores para fazer a remoção”, disse,

Para ele, além da coleta, é preciso que a prefeitura municipal ofereça a estrutura para descarte correto dos resíduos. “Se a Prefeitura viesse, fizesse o serviço e desse uma orientação e uma ajuda a mais pra que a população pudesse dar o destino correto [ao lixo], todo mundo sairia ganhando. Tanta população quanto o poder público“, conclui ele.
Despesas
Dados do Portal da Transparência indicam que a Semulsp, sob a gestão de Sabá Reis e do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), registrou, até esta terça-feira, 23, um total de R$ 584.685.523,26 em despesas pagas, valor 74% maior que o valor empenhado para o período, de R$ 333.511.621,09.

Conforme mostrou a CENARIUM em junho deste ano, para os serviços de coleta de lixo em Manaus, a prefeitura, por meio da Semulsp, possui contratos bilionários com duas empresas: a Tumpex e a Marquise. O primeiro é no valor de 1,8 bilhão, enquanto o segundo é de R$ 1,2 bilhão. Ambos se encerrariam em 2020, mas foram prorrogados até 2035.
O contrato 033/2003, da Semulsp com a Tumpex, foi assinado em 2003. O valor mensal do contrato, no valor total de R$ 1.843.747.174,80, é de R$ 10.243.039,86.
O contrato tem por finalidade a execução de “serviço de limpeza pública urbana, consistente na coleta, carga, transporte e descarga de resíduos sólidos domiciliar, comercial e hospitalar, resíduos provenientes das atividades de varrição das vias e logradouros públicos, capina, roçada, mutirões e serviços especiais de limpeza de igarapés/córregos, abrangendo toda a área urbana da cidade de Manaus, cujos resíduos são depositados no aterro municipal, hoje situado no km 19 da Rodovia AM/010“.


Já o contrato 001/2013, com a Marquise, é de 2013, e tem a mesma finalidade do citado anteriormente. Neste, o valor total é de R$ 1.283.786.292,60, correspondente a R$ 7.132.146,07 por mês.


Operação sigilosa
Secretário da Semulsp, Sabá Reis foi citado nas operações Entulho e Dente de Marfim, deflagradas pela Polícia Federal em junho de 2023. Sob sigilo, os inquéritos apuram um esquema de corrupção, fraudes em licitações e pagamento de propina envolvendo contratos milionários da Prefeitura. Além dele, o prefeito David Almeida, a irmã de David e ex-secretária de Educação, Dulce Almeida, o vice-prefeito Renato Júnior (PL) também foram mencionados.
Figura central da Dente de Marfim, Sabá Reis é apontado como um dos principais beneficiários do esquema de propina investigado. Interceptações telefônicas indicam que ele recebeu pagamentos em espécie da empresa Mamute Conservação, contratada pela Prefeitura de Manaus.

Nos diálogos, ele é tratado como “chefe”, e há menções explícitas à entrega de valores diretamente ligados à manutenção de contratos com o município. A apuração envolve suspeitas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraude em processos licitatórios.
VIA REVISTA CENARIUM


