A Prefeitura de Manaus (AM) recorreu à força para fechar um depósito utilizado por vendedores ambulantes no Centro da cidade, apreendendo carrinhos e mercadorias essenciais à sobrevivência econômica dessas pessoas, nas últimas 48 horas. A ação gerou confusão e protestos.
O prefeito David Almeida (Avante) classificou a operação como “Mutirão no Centro”, para “revitalização urbana”. Para especialistas, a iniciativa foi apontada como prática de “higienização social”, que ataca e exclui os trabalhadores informais dos grandes centros comerciais, invisibilizando-os sem oferecer alternativas de existência.
Mais da metade da população trabalhadora do Amazonas recorre à informalidade para sobreviver, realidade que não se resolve com repressão, mas com políticas públicas de regularização simplificada, como capacitação, microcrédito, criação de espaços adequados e acesso a direitos sociais básicos.
O que se viu nas ruas de Manaus não foi a interdição de um depósito ou a apreensão de mercadorias: foi a interrupção brutal de vidas que se sustentam no fio da informalidade. No lugar de ser a ponte entre o cidadão e a dignidade, o poder público assumiu o papel de opressor, usando a força contra mulheres negras e estrangeiras que carregam no corpo e na pele a marca de séculos de exclusão.
Não há revitalização urbana que justifique a humilhação pública, a violência física e o confisco do direito de existir pelo trabalho. Quando o Estado se transforma em agressor dos mais vulneráveis, ele abdica de sua função essencial: proteger. E, nesse vácuo de humanidade, a cidade se apequena, revelando que sua verdadeira ruína não está nos buracos das ruas, mas na erosão moral de seu governante.