| DO RDA – MICHELLE PORTELA
O abatedouro Plantar, instalado na comunidade São Raimundo do Jarauá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, obteve licença ambiental para pré-beneficiamento de jacarés, com expectativa de abate de até 150 animais por ano, podendo oferecer até três toneladas desse tipo de carne para o comércio local no mesmo período, em Tefé, sede do instituto, e ao de Manaus, capital do Amazonas.
Iniciativa pioneira no país, os animais destinados ao abate serão oriundos de manejo comunitário da espécie feito pela própria comunidade, que tem tradição com a pesca do Pirarucu (Arapaima gigas). A implantação de um abatedouro é parte do programa de manejo de jacarés no Amazonas, como estratégia tanto para a conservação da espécie quanto para a geração de renda para as famílias locais.
A entrega dos documentos de licenciamento ocorreu no último dia 19 de julho, reunindo membros da comunidade, representantes da RDS e outros órgãos ambientais e autoridades do Amazonas. Entre eles, estiveram ainda presentes autoridades do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Prefeitura de Tefé.
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O diretor-geral do Instituto Mamirauá, João Valsecchi, destacou a iniciativa inédita em unidades de conservação. “É uma vitória muito grande da pesquisa, da ciência, da comunidade, que foi parceira em todas as etapas. É uma vitória de todas as instituições aqui presentes e de todos os envolvidos”, explica.
Cadeia produtiva
De acordo com Diogo Franco, coordenador técnico do projeto, a cadeia produtiva do negócio visa, inicialmente, à comercialização da carne e peles, mas deverá ser expandida. “Futuramente, tentaremos também aproveitar subprodutos, como cabeça, patas, ossos e vísceras”, explica.
A expectativa é que a escala de produção possa atingir o máximo da cota permitida de até 450 animais abatidos por ano no Jarauá, o que representaria aproximadamente 10 toneladas de carne por ano disponível para a comercialização, mas a exploração deve avançar aos poucos. “Como estratégia de precaução, para avaliar anualmente a resposta das populações de jacaré ao manejo, essa cota não será capturada e abatida integralmente nos primeiros anos, sendo gradativamente aumentada”, avalia.
Assim, de acordo com Franco, nos próximos dois anos, as escalas de produção possivelmente estarão entre 50 e 150 jacarés/ano, ou seja, uma a três toneladas, podendo ser ampliadas ou reduzidas conforme avaliação de impacto.
Com o Serviço de Inspeção Estadual emito pela Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (ADAF), a carne de jacaré do abatedouro Plantar será inicialmente comercializa em Tefé, município instalado no centro da RDS Mamirauá, e de acordo com o aumento da escala de produção, será enviada também para Manaus, capital do Amazonas, visando a comercialização em feiras públicas e supermercados.
A iniciativa visa também combater o consumo ilegal de carne de jacaré. De acordo com Franco, as apreensões de carne de jacaré ilegal para consumo no estado do Amazonas, segundo estimativas de órgãos ambientais, chegavam a 30 toneladas por ano. Além disso, pesquisas de mercado locais em Tefé, indicam que existe demanda significativa no Amazonas. Futuramente, o abatedouro poderá obter novas licenças um para comercialização da carne em nível nacional.