Agentes das Polícias Militar e Civil do Amazonas e outros oito estados mataram 243 adolescentes de 12 a 17 anos em 2023, segundo o levantamento “Pele alvo”, divulgado pela Rede de Observatórios na última quinta-feira, e publicado pela coluna do jornalista Guilherme Amado no site Metrópoles.
Os números foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto às Secretarias de Segurança Pública e órgãos correlatos, de nove estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.
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Os estados em que as polícias mataram menos jovens, dentre os estudados, foram o Amazonas e o Piauí. Ambos tiveram duas mortes de adolescentes pelas mãos do Estado.
AMAZONAS
O Amazonas se junta ao Pará e passa a fazer parte dos estados da região Norte monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. Em seu primeiro ano de análise, os dados mostram uma mudança na distribuição territorial da letalidade provocada pela polícia.
Em 2022, a capital concentrava 61,6% dos casos; no ano seguinte, 54,2% das vítimas estavam nos municípios do interior, com destaque para Rio Preto da Eva, cidade que tem menos de 1% da população amazonense, mas acumula 15,3% dos óbitos.
E, seguindo o padrão que o boletim evidencia em cada região, 92,6% das pessoas mortas decorrentes de intervenção do Estado eram negras, desconsiderando os casos não informados, sendo a juventude a parcela da população mais afetada, com 69,5% das vítimas tendo entre 12 e 29 anos.
LETALIDADE
O estado com maior número de mortes de crianças e adolescentes por policiais foi a Bahia, com 102 mortes de pessoas de 12 a 17 anos.
Em segundo lugar, está o Rio de Janeiro, com 51 mortes de jovens.
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Em São Paulo foram registradas 38 mortes de adolescentes; em Pernambuco, oito; no Pará, 19; no Maranhão, seis; e no Ceará, 15.
Desde 2020, quando foi apresentado o primeiro Boletim pela Rede de Observatórios, o padrão das pessoas mortas por agentes de segurança estaduais se mantém, sendo a população jovem negra a grande maioria das vítimas.
“Ano após ano, vemos a reafirmação de que a violência da polícia tem cor, idade e endereço. São milhares de jovens negros, muitos que nem chegaram a atingir a maioridade, com suas vidas ceifadas sob a justificativa de repressão ao tráfico de drogas. Não é aceitável nem justificável a morte de uma pessoa negra a cada quatro horas pelas mãos de agentes de uma instituição que deveria zelar pela vida. Nosso objetivo ao ressaltar esses dados é denunciar a urgência de um debate público acerca do racismo na segurança e incentivar o desenvolvimento de políticas públicas que mudem o rumo desta realidade”, diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios.
FOTOS: ANTONIO LIMA/SECOM