Engavetadas desde que foram deflagradas pela Polícia Federal em junho de 2023, as operações Entulho e Dente de Marfim citam o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), a irmã dele e ex-secretária de Educação, Dulce Almeida, o vice-prefeito Renato Júnior (PL) e o ex-secretário de Limpeza Pública, Sabá Reis. Sob sigilo, os inquéritos apuram um esquema de corrupção, fraudes em licitações e pagamento de propina envolvendo contratos milionários da Prefeitura. A reportagem é da Cenarium.
David Almeida é mencionado em investigações que apuram a atuação de agentes públicos em contratos da Prefeitura. Gravações da PF registram encontros entre empresários investigados, incluindo um dos sócios da empresa Tumpex, e integrantes da administração municipal. Nas interceptações, também é citado o genro do prefeito, Pedro Thadeu Cadais Pinto de Moura, como interlocutor em tratativas relacionadas aos contratos sob apuração.

Ex-secretária municipal de Educação e irmã do prefeito, Dulce Almeida é citada diretamente em interceptações telefônicas como destinatária de um pagamento de R$ 100 mil, feito por um dos empresários envolvidos no esquema. Segundo os diálogos captados nas investigações, o valor teria sido entregue a Dulce pouco antes de David Almeida assumir a Prefeitura, como parte de um acordo de favorecimento a empresas em licitações futuras. O caso é tratado nos autos como indício de corrupção passiva e tráfico de influência dentro da estrutura administrativa do município.
Atual vice-prefeito de Manaus e ex-secretário municipal de Limpeza Pública, Renato Júnior também aparece citado nas investigações da operação Entulho. De acordo com os grampos telefônicos obtidos pela Polícia Federal, empresários relataram que o prefeito David Almeida teria orientado Renato a “resolver uma situação” relacionada a contratos sob suspeita.

Figura central da Operação Dente de Marfim, o ex-secretário municipal de Limpeza Pública Sabá Reis é apontado como um dos principais beneficiários do esquema de propina investigado. Interceptações telefônicas indicam que Sabá teria recebido pagamentos em espécie da empresa Mamute Conservação, contratada pela Prefeitura de Manaus. Nos diálogos, ele é tratado como “chefe”, e há menções explícitas à entrega de valores diretamente ligados à manutenção de contratos com o município. A apuração envolve suspeitas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraude em processos licitatórios.

Operação Entulho
Deflagrada pela Polícia Federal em junho de 2023, a Operação Entulho investiga um esquema de corrupção e fraudes em contratos de coleta de lixo firmados pela Prefeitura de Manaus. As apurações indicam a existência de empresas de fachada, sonegação fiscal e superfaturamento em contratos que somam mais de R$ 245 milhões. Os investigadores apontam que parte dos serviços foi prestada por firmas com vínculos ocultos e que o esquema operava com o apoio de agentes públicos, permitindo a manutenção dos contratos por meio de favorecimentos ilícitos.
Durante a operação, cinco pessoas foram presas temporariamente e mais de 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Manaus e no Rio de Janeiro. Empresas como a Tumpex e a Mamute tiveram documentos apreendidos e bens bloqueados, enquanto a Receita Federal identificou movimentações financeiras incompatíveis com a capacidade econômica dos sócios. A Justiça determinou o sequestro de valores, veículos e imóveis ligados aos investigados.
Operação Dente de Marfim
A Operação Dente de Marfim, desdobramento direto da Entulho, foi deflagrada pela Polícia Federal em junho de 2023 para aprofundar investigações sobre contratos da Prefeitura de Manaus com a empresa Mamute Conservação, Construção e Pavimentação Ltda. O foco principal da apuração é um esquema de pagamento de propinas em troca da manutenção e aditivação de contratos milionários com o município. A investigação apura crimes como corrupção ativa e passiva, fraude em licitação, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, e estima que o grupo tenha movimentado ilegalmente ao menos R$ 30 milhões.
Durante a ação, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados à Mamute e a ex-integrantes da Secretaria Municipal de Limpeza Pública. A Justiça Federal determinou o bloqueio de bens dos investigados no valor equivalente ao suposto prejuízo causado aos cofres públicos. Laudos da Receita Federal identificaram movimentações financeiras incompatíveis com a renda declarada por empresários e agentes públicos.
A CENARIUM tentou obter informações, junto à PF e ao Ministério Público Federal (MPF), sobre as investigações das operações Entulho e Dente de Marfim, mas não recebeu retorno.
VIA CENARIUM