Por: Ana Jeffres
O sofrimento moral no trabalho é uma experiência psíquica dolorosa que surge quando o colaborador se depara com situações que ferem seus valores éticos, morais ou existenciais. Trata-se de um tipo de sofrimento profundo, geralmente silencioso, e que não encontra espaço para ser acolhido nas estruturas formais da organização.
Um estudo conduzido pela Fiocruz (2022) apontou que mais de 38% dos trabalhadores entrevistados relataram já ter vivenciado situações de sofrimento moral em seus ambientes laborais, incluindo pedidos incoerentes por parte de gestores, omissão frente a assédios e falta de sentido nas tarefas desempenhadas.
Esse tipo de sofrimento afeta diretamente a saúde mental dos colaboradores e tem relação direta com os fatores psicossociais de risco, os quais devem, obrigatoriamente, ser considerados pelas empresas segundo a atualização da Norma Regulamentadora nº 01 (NR 01).
*Sofrimento moral não é mimimi. É indicador de risco psicossocial.*
A ausência de espaços seguros para o trabalhador expressar dúvidas, desconfortos e dilemas morais impacta negativamente não apenas o clima organizacional, mas também a produtividade, a motivação e os indicadores de adoecimento psicológico.
*Como a Psicologia pode ajudar*
A Psicologia Organizacional atua como aliada fundamental nesse cenário. A partir de diagnósticos qualitativos, é possível identificar espaços de tensão moral dentro da empresa e desenvolver protocolos de cuidado mais efetivos. Grupos de reflexão, supervisão de lideranças, escutas individuais e mediação de conflitos são algumas das intervenções possíveis.
O sofrimento moral pode ser prevenido quando a organização fomenta o sentido do trabalho, adota práticas de liderança mais humanas e permite a participação dos colaboradores nas decisões que afetam seu cotidiano.
De acordo com o artigo “Moral Distress in the Workplace” (Occupational Medicine, 2020), organizações que reconhecem e enfrentam o sofrimento moral reduzem significativamente afastamentos por transtornos mentais e aumentam os níveis de engajamento e bem-estar.
*Pergunta estratégica:* sua liderança está preparada para lidar com dilemas éticos? Ou ainda está presa à cultura do comando e controle?
O sofrimento moral não é invisível para quem sente — mas ainda é ignorado por muitas lideranças. A Psicologia tem muito a contribuir para mudar esse quadro.