No sul do Amazonas, o município de Tapauá, o quinto maior em extensão territorial do Brasil, destaca-se como uma ilha de resistência em meio à expansão do desmatamento na Amazônia. Com grande parte de seu território protegido por Unidades de Conservação e Terras Indígenas, o município é palco de iniciativas socioambientais que buscam equilibrar desenvolvimento econômico e preservação da biodiversidade.
Essas ações têm como alicerce a organização social e a governança territorial, pilares que fortalecem a autonomia das comunidades locais. Liderado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), e com apoio da Rainforest Association, o projeto Governança Socioambiental Tapauá atua há três anos no município, promovendo capacitação em boas práticas produtivas, fortalecimento de associações comunitárias e acesso a políticas públicas.
Entre as iniciativas destaca-se o engajamento de jovens indígenas Apurinã, capacitados para monitorar territórios por meio de aplicativos e drones. Já a Associação das Mulheres Indígenas Artesãs de Tapauá (Amiata) vem promovendo o resgate cultural e a profissionalização do artesanato, com apoio de entidades como o Fundo Casa. Além disso, por meio de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedect) e com a Secretaria Executiva do Trabalho e Empreendedorismo (Setemp), já foram cadastradas 18 artesãs para a emissão da Carteira Nacional do Artesão, que possibilita ao portador o reconhecimento formal da sua produção e a condição de mestre artesão.
“A ideia é ir além dos balaios, cestos e abanos com fibras amazônicas como na tradição dos mais antigos”, explica Sandra Batista, vice-presidente da Amiata, que abrange mais de 30 comunidades.
A comercialização de produtos como óleo de copaíba, mel e açaí de extrativismo desponta como alternativa viável para o fortalecimento econômico da região. Com uma área de 881 mil hectares, a Floresta Estadual (FES) Tapauá é rica em recursos como castanha e breu, mas carece de compradores e logística adequada.
Firmiano Silva, vice-presidente da Associação Agroextrativista dos Moradores da FES Tapauá (Aamfet), reforça que “só a valorização da sociobiodiversidade, sem desmatamento, poderá transformar a realidade da região”.