O 0,1 que (não) diz muito …
O resultado em notas do Festival Folclórico de Parintins 2024 trouxe (falsas) certezas e (como sempre) muitas dúvidas.
A diferença de 0,1 não correspondeu ao todo de um lado. Enquanto, que mascara o que falta do outro. Notas dificilmente são exatas numa avaliação de uma manifestação cultural, ainda mais no Festival Folclórico de Parintins, onde a emoção pode inebriar os julgamentos. Natural do ser humano, cujas leituras por mais técnicas que devam ser, esbarram no emocional, quando se depara com algo como o festival, onde em cada local acontece algo em sons, cores e formas.
No lado azul, a “frustração”. Fomos mais, sobramos e demos Espetáculo (guardem essa palavra) e, ainda, aliamos a emoção. O boi técnico aprendeu a levar a galera junto com o que apresenta na arena, seja trazendo do ar ou no chão.
A tecnologia está presente e ao olhar para outros anos, é claro que não vai parar e ainda vai evoluir. Em 2025, projeções e drones? Aguardemos!
No lado vermelho, a sensação foi de alívio. Ouvi de uma torcedora pouco antes da apuração “Espero que os jurados vejam o mesmo que eu: o Contrário foi excessivo”. Num misto de ironia e convicção.
Com a maioria das alegorias trazendo o mais do mesmo (apesar de estarem bem melhores que em 2022 e mais ainda do que em 2023, quando caíram antes, durante e depois), os torcedores tinham convicção que a perda com ampla vantagem no item, era certa. Não veio! Tupã ajudou! Para alívio de todos.
A paleta de cores foi um ponto lindo de ver nas alegorias, pena que as indumentárias de composição passaram longe dessa aula, e cores terrosas deram literalmente o tom das fantasias.
Para quem vê com olhos mais atentos, uma arena com umas 40 pessoas com camisas de diretoria, que ficaram ao lado da batucada pulando, gritando, puxando item pra selfie, não merece 10 em organização. Penetras com blusa de diretor.
Palco é dos artista e vocês são desnecessários e inúteis na arena.
Enquanto isso, a arena vazia ou com um elenco de poucas pessoas ( o que também aumentava o vazio) por longos minutos e deixava todos com a impressão: tá faltando algo. E estava!
Que bom que os levantadores garantiram os 10, mas a dúvida se iam conseguir foi até o final da apresentação. E não tem coração de torcedor que aguente tamanha incerteza.
A galera é um caso a parte. A paixão do torcedor encarnado não tem limites ou parâmetro. Ela já provou que leva o boi pra frente, independente do que esteja acontecendo. Insuperável, incansável, inebriante. Mas, não pode ter sobre si, a superação sempre. Tem que ser leve pra brincar!
Enquanto todos achavam que Isabelle teria apresentações memoráveis, vem com indumentárias ok; aparições ok e transformações que deram problema. Palmas para a evolução que confirmou que é uma cunhã 10.
As coreografias vem numa crescente desde 2022, quando pela primeira vez em anos, ganhou do Caprichoso. Palmas e reverências aos coreógrafos e dançarinos. Duas noites gabaritadas!
Teria muito mais a falar, porém, vamos focar no amo do boi?
Ainda bem que o Garantido tem João Paulo Faria, o único item individual do festival a vencer. Destaque por suas apresentações cheias de teatralidade, onde conta histórias, com altas doses de deboche e conhecimento. Leva a galera ao delírio quando faz um verso, sentado ou não numa cadeira de balanço. É o ponto fora da curva, onde a tradição vem com boas doses de inovação. E tudo apresentado na arena é ideia dele.
O amo do Garantido mostra que a tradição pode ter uma cara nova. Não pode ficar com os pés no ontem. 1913 já passou, as lamparinas já acenderam e viraram led há algum tempo.
O Garantido já foi o boi da vanguarda. O primeiro a desligar as luzes do bumbódromo e acender velas e depois luzes na galera; também foi o pioneiro em colocar metalóides nas lanças da vaqueirada; levou o homem voador ao bumbódromo; colocou um balão na arena. O Boi de coração na testa foi o primeiro a fazer os movimentos de um boi real. Entre tantas outras novidades.
Então, esqueçam a história que não dá pra inovar por causa da tradição.
O Garantido não pode se esconder atrás da galera, da tradição e da emoção para não ir além. Da sim e o Garantido já fez isso com louvor e mudou o festival várias vezes e sem perder a essência.
Esqueçam Bumbás, o 0,1. Sabemos que ele não corresponde ao mostrado na arena. Não dá pra se esconder atrás dele e arrumar um guindaste. Vai muito além, passa por conceitos (de texto, roteiro e alegórico) e até regulamento. Sorry!
A galera vermelha e branca quer espetáculo sim! Emoção e espetáculo! Os dois podem caminhar juntos! Nem uma vírgula a menos!
2025 já começou e tem um boi a frente!
Chris Reis
Jornalista rubra, “boióloga” por observação, perreché da Puraka, galerosa da Baixa, que vai sim pro Curral após o resultado (sendo bom ou não) porque não chora derrota, mas que não é cega ou surda.