Cauã Reymond já estampou inúmeras revistas, algo trivial para quem trabalhou como modelo e hoje é um dos artistas mais conhecidos do país. Mas ter seu rosto na capa de um romance é algo novo.
Há pouco mais de um mês, o ator está nas livrarias. Seu rosto aparece com destaque na sobrecapa promocional da versão de bolso de “Dois Irmãos” (Companhia das Letras). Ali ele não é Cauã, mas sim Omar e Yaqub, os gêmeos protagonistas do livro de Milton Hatoum, ganhador do prêmio Jabuti de 2001.
A ação de marketing da editora com a Globo antecipa uma parceria que será vista na TV a partir de 9 de janeiro, quando a emissora carioca volta a colocar no ar uma minissérie inspirada em uma obra da literatura brasileira.
Isso acontece pelas mãos de Luiz Fernando Carvalho, que já adaptou “Capitu”, de Machado de Assis, e, no cinema, “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar.
As gravações começaram no início de 2015, em Manaus, onde se passa a história. Quando já editava a minissérie, Carvalho precisou deixá-la de lado para assumir a direção da novela “Velho Chico”, daí “Dois Irmãos” levar quase dois anos para estrear.
Hatoum não enxerga com preconceito nem a capa promocional do livro nem sua migração para a tela. “Se ajudar a atrair leitores que normalmente só leem best-sellers, será maravilhoso”, diz.
O autor amazonense nunca imaginou que seu livro um dia seria adaptado para a TV, numa emissora aberta. “Não estava preparado para isso. Jorge Amado devia estar, suas obras eram muito populares”, diz.
Ele revela ter ido às lágrimas ao assistir a trechos de alguns dos dez capítulos da trama. “Tem uma força expressiva, uma ousadia da linguagem, da estética, que não é comum. Vai ser um marco na TV.” E elogia a fiel adaptação feita pela autora Maria Camargo, que, segundo ele, não deixou nenhuma parte essencial de fora. “Não me senti traído como escritor.”
Para Hatoum, se a minissérie formar novos leitores, já terá valido a pena. “Quem sabe depois de ‘Dois Irmãos’ essas pessoas estejam lendo ‘Grande Sertão Veredas'”, afirma.
“Tudo o que eu quero é que a classe média brasileira leia ‘Vidas Secas’ e ‘São Bernardo’ para entender o Brasil. Esses movimentos MBL, Vem pra Rua tinham quer ler mais literatura brasileira para ser menos ingênuos.”
ÓDIO FRATERNO
“Dois Irmãos”, assim como no livro, contará, em fases, a história dos irmãos de origem libanesa Omar e Yaqub.
Opostos em tudo, a dupla disputa a atenção e o amor dos pais, Halim (Antonio Caloni/Antonio Fagundes) e Zana (Juliana Paes/Eliane Giardini) –sendo que esta, numa leitura edipiana, tem clara preferência e nutre uma paixão por Omar.
Na adolescência, eles disputam também o amor de Lívia (Monique Bourscheid/Bárbara Evans), e chegam ao conflito de fato, passando a se odiarem declaradamente.
A saga da família, que se passa entre 1910 e 1960, é contada por um narrador, Nael (Irandhir Santos), filho bastardo de um dos gêmeos com a empregada índia Domingas. “Ter como narrador o excluído, o índio, é uma metáfora da nossa miscigenação”, afirma Carvalho.
Para o diretor, “Dois Irmãos” é um drama familiar que conta nas entrelinhas o drama de um país, de uma região. Segundo Carvalho, não há pirotecnia na produção. “É um trabalho de atores, de personagens. Quase 90% das cenas são num sobrado, é simples mas, ao mesmo tempo muito complexo.”
DOSE DUPLA
O protagonista Cauã Reymond, 35, diz que o trabalho em “Dois Irmãos” é o mais importante de sua carreira. Quando soube que Carvalho, com quem nunca havia trabalhado, estava com os direitos para adaptar a obra, correu atrás. “O Omar e o Yaqub são profundos de formas muito diferentes”, afirma.
Cauã ressalta outra característica trabalhada na hora de compor os personagens. “Mesmo à distância, tem uma coisa de intuição, de sexto sentido entre gêmeos. É a mesma intuição que mães sentem pelos filhos. Então, encontrar esse lugar de conexão e, ao mesmo tempo, da disparidade, das diferenças de personalidade, é o maior desafio e também o mais gostoso de fazer.”
A jornalista viajou a convite da Globo.
NA TV
Dois Irmãos
Quando de seg. a sex., após “A Lei do Amor”, a partir de 9/1, na Globo; e no Globoplay com antecipações.
Com informações da coluna Ilustrada da Folha.