POR KLEITON RENZO – DO RDA
O recém-inaugurado Porto de Chancay, no Peru, já movimenta autoridades brasileiras. A Receita Federal confirmou que está preparando uma força-tarefa para atuar em Tabatinga (AM), ponto estratégico na fronteira com a Colômbia, diante da expectativa de aumento no fluxo de cargas pelo novo corredor que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico.
Segundo o secretário especial da Receita, Robinson Barreirinhas, a equipe aguarda autorização do governo peruano para se deslocar com veículos e servidores, de forma a instalar uma estrutura aduaneira capaz de atender à nova rota. “O Porto de Chancay já é uma realidade, nós já detectamos movimentação na região norte de caminhões que estão se deslocando, ainda que todo o percurso não esteja pronto”, explicou o secretário durante evento com a Bancada do Norte, na última semana em Brasília.
Barreirinhas explicou que a movimentação da Receita Federal deverá ocorrer já nos próximos dias. “A Receita Federal está estudando isso [a rota], está se deslocando também, nós temos uma força-tarefa da Receita, que está se deslocando em direção [à fronteira com a Colômbia e o Peru, em Tabatinga], ou vai se deslocar na semana que vem, nós estamos aguardando a autorização do governo peruano para nos deslocarmos com veículos, para estarmos preparados para esse novo percurso”, analisa.
O projeto integra o plano da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para ampliar o acesso do Brasil ao Pacífico. “A ministra Tebet tem isso no plano dela, do acesso do Brasil ao Pacífico, e a Receita Federal está empenhada em realizar esse projeto. E um dos pontos essenciais deles é, de fato, a aduana lá em Tabatinga”, finalizou o secretário.
Contexto e impactos esperados
Localizado a cerca de 80 km ao norte de Lima, o Porto de Chancay foi inaugurado em novembro de 2024, após investimento de cerca de US$ 3,6 bilhões. O terminal tem capacidade para receber megacargueiros de até 18 mil contêineres e promete reduzir em até 15 dias o tempo de transporte marítimo entre a América do Sul e a Ásia.
Para o Brasil, a nova rota pode significar:
Redução de custos logísticos e maior competitividade para exportadores, especialmente de grãos e commodities;
Alternativa estratégica para estados do Norte e Centro-Oeste, diminuindo a dependência dos portos do Sudeste;
Necessidade de investimentos em infraestrutura terrestre para superar gargalos, como a travessia dos Andes e a ausência de ligação ferroviária adequada.
Experiência recente na Amazônia
Paralelamente ao avanço de Chancay, a Receita Federal também se destacou pela criação da aduana flutuante no Amazonas, adotada em 2024 para enfrentar a crise de abastecimento causada pela vazante histórica de 2023. A medida antecipou os procedimentos de fiscalização antes da chegada das embarcações a Manaus, triplicando o volume de mercadorias recebidas no período crítico.
“Em vez de esperarmos os navios chegarem ao porto, movemos a aduana até eles. Foi uma solução inédita, construída com apoio dos servidores da Receita e de parlamentares da Bancada do Norte”, disse Barreirinhas.
A expectativa do órgão é de que, com o aprendizado obtido na Amazônia e a preparação em Tabatinga, o Brasil esteja pronto para aproveitar plenamente a nova rota com o Pacífico.